domingo, 23 de novembro de 2014

RESPINGOS DE PRATA XXVII

E quando passei solito pelo Rio São Gonçalo, entrei na Lagoa Mirim.  Senti o peso do perigo, Lagoa malvada e brava. Naveguei muito tempo em ventos perigosos. Depois, entrei em arroios calmos para descansar, cozinhar, sonhar e depois dormir.
Eta! Lagoa briguenta, brava que cansa agente com ventos loucos e com a sua solidão.
Uma semana de timão, nas mãos as velas caçadas, controlando os ventos fortes.
E, cheguei em Jaguarão. Cidade bonita, meio espanhola, meio portuguesa, povo alegre, brincalhão, cavalheiro e amigo.
Assim passei  alguns dias. Parrilladas, vinhos importados, cervejas Nortenhas geladíssimas, queijos maravilhosos e, para variar, algumas casas de chinas que visitei, afastando a solidão. Resolvi entrar então, no Rio Cebollati, rio maneiro do Uruguai. Comi churrasco de cordeiro mamão, tomei cachaças "malevas" e voltei devagarinho "costurando" pelas margens.
E resolvi encarar , de volta, a fera. A Lagoa Mirim.
Entrei nela à tardinha, com vento forte na proa, no rumo de Santa Vitoria. Não consegui dormir, naveguei por toda a noite encontrando "demos" na proa.
Cheguei por lá no outro dia, num fim de tarde ventoso. Guardei meu barco no porto, tomei butiá na cachaça, traíra frita de tira gosto.
Depois dormi, dormi como nunca. Acordei no outro dia ventando forte  e saí pela cidade, procurando amores que, lá encontrei um dia ou namoradas passageiras, com saudade dos beijos que esqueci no tempo, imaginem que bobagem.
Voltei,  para o meu barco amigo e quieto, lá na beira do canal. Encontrei uma  índia velha, dona de uma bodega que me contou coisas lindas da vida dela e da quieta Santa Vitoria, aos goles de butiá.
Fui embora no outro dia e muito tempo depois, busquei o meu Guaxo, querido amigo que me ensinou a conhecer coisas que pouca gente conhece. Envelheci e nunca mais naveguei.
Meu barco voltou,  parou e, também, nunca mais navegou. Eu o terei na lembrança para sempre.
Meu velho Guaxo, valente, descansou.

2 comentários:

  1. Isso está lindo, Sergio Renato! Gostaria que soubesses que consegui chegar aqui ainda no dia que escreveste, 23/11/2014, embora seja quase o outro dia! Quantas belas lembranças deves ter do teu GUAXO companheiro! Guarda-as bem no fundo do teu coração, mas continua contando-as para que possamos nos deliciar com teu modo de falar que nos toca fundo e emociona! Parabéns por mais essa crônica de teus jovens dias de moço navegador, um pouco solitário, mas muito sonhador e romântico, amigo dos rios e mares bravos. Um aventureiro navegador do *amor*! Um amplexo dessa tua admiradora de tanto tempo! Que o Pai do Céu te guarde e ilumine sempre!

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