segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

RESPINGOS DE PRATA XXXII

Eu era um menino, calça curta,  de cabelo arrepiado quando fui morar na Palma, lá no interior de Arroio Grande. Lá, onde o mundo perdeu seus limites, onde os Matarazzo resolveram criar  minas de calcário. Estudei por lá muito tempo, numa escolinha municipal, com três salas e um banheiro de madeira, apenas, mas com ótimas professoras. Morávamos longe e ao invés dos sonhos das bicicletas, ganhei uma petiça tubiana, era muito mais barato. E na vida de menino solitário, aprendi a viver assim, eu para a vida, a vida para mim. Passei muitos anos, galopando ao frio intenso, minha cadelinha, fox, correndo ao meu lado. Nos fins de semana vendia os pastéis (pastéis de carreira), recheados de dobradinhas baratas, que minha mãe fazia, para vender nas corridas de cancha reta. Delícias que poucos conhecem. Quantas brigas, quantas barrigas vazadas por facas uruguaias, eu vi naquele lugar. E quando tudo acabava, à tardinha, pegava os meus caniços e enchia a nossa cozinha de lambaris e traíras. Sempre pensando em Laurita, moreninha de olhos verdes, com cheirinho  de flor de laranjeira.
Desde guri eu fui assim, sempre procurei os meus sonhos.  Nas horas de solidão, enchia minha vida de lembranças e das coisas que projetava  para mim. 
Um dia voltei para Rio Grande. Despertaram novos sonhos, e o mar tomou conta de mim.
Desde guri eu fui assim, não tenho medo de nada, aprendi quase tudo, pois, ninguém aprende tudo na vida.
E fui seguindo por aí, do jeito que sempre fui. 
Hoje desenho sonhos de saudades, de lembranças sem fim. Vou seguindo minha vida com todos os amigos que, ainda "moram" por aqui e com os amores que nunca esqueci.
Meu cabelo é liso e branco, não é mais arrepiado, minha petiça morreu, minha barba cresceu, Minhas lembranças guardadas, são sem fim. Sou um jovem velho.
Aprendi a ser assim.




Nenhum comentário:

Postar um comentário